Que lingua falo eu?

Para os interessados que notaram o meu sumiço este fim de semana, a minha “gripe mutante” está bem melhor e devo voltar ao trabalho amanhã. Tentei ao máximo evitar o computador, e creio ter feito um bom trabalho, considerando que trabalho em vários projetos fora do meu trabalho profissional.

Fiquei extremamente feliz ao ler um e-mail enviado à turma de Tradução do Ubuntu pelo Raul Pereira, sobre um documento que ele criou recentemente. Este documento, atualmente hospedado aqui, é uma obra prima em respeito sobre traduções no mundo de software livre. É possível que eu esteja exagerando? Absolutamente!!! Mas o documento tem um potencial enorme, e por estar em um wiki, qualquer pessoa pode agora complementar/editá-lo.

Também nesta quinta-feira convoquei uma reunião com os administradores da equipe Brasileira de Tradução do KDE para discutírmos uma possível colaboração entre as equipes. O log da reunião pode ser encontrado aqui. Muita gente não sabe disso, mas a forma que as traduções são geradas no Ubuntu não é muito justo com as equipes responsáveis pelos códigos originais (leia-se upstream). Geralmente, traduções já efetuadas por equipes como KDE, GNOME, Mozilla, etc, etc são importadas automaticamente na distribuição do Ubuntu. Este processo é efetuado por scripts e todas as mensagens e frases (leia-se strings) que foram traduzidas são importadas e salvas em um banco de dados. Uma vez esta informação é salva, qualquer pessoa que tiver assinado o Código de Conduta (leia-se contrato social) do Ubuntu poderá enviar suas sugestões de traduções diretamente ao Ubuntu utilizando a interface (web) chamada Rosetta.

Por muito tempo eu achava o Rosetta uma ferramente extraordinária… aquela pecinha que faltava no “quebra-cabeça” do mundo do software livre. Literalmente, a “ponte” que conectava usuários “comuns” com os “hackers” deste mundo. Literalmente, qualquer pessoa que saiba manusear um mouse, operar um navegador de web, e tenha algum conhecimento de inglês pode ajudar com as traduções. Mas toda essa facilidade tem um preço que muitos ainda não conhecem (ou não se importam): qualquer tradução feita e enviada pelo Rosetta, jamais voltará para o código fonte original. Acho que chegou a hora de passar um exemplo para que todos possam acompanhar o raciocínio.

Imagine que o pessoa que escreve o programa Firefox tenha conseguido traduzir 90% sua interface e documentação para o Português Brasileiro. Neste ponto, o pessoal do Ubuntu importa o código e tradução/documentação para seus próprios repositórios, e imediatamente o libera para que as equipes de tradução façam seu trabalho. Algumas semanas depois, passado todo o processo de edição e aprovação, o Firefox é declarado traduzido 100%… no Ubuntu! Maravilha, não??? Não!!! O problema é que esta rodovia do mundo de software livre é de mão dupla, e qualquer melhoria feita de um lado deve ser repassado para o outro. Infelizmente, toda e qualquer melhoria feita nas traduções do Ubuntu não são aproveitadas por mais ninguém. É por isso que desde outubro do ano passado, a equipe Brasileira do Ubuntu tem trabalhado diretamente com a equipe do GNOME, certificando que todas nossas traduções são filtradas e aprovadas pelos padrões (rigorosos, diga-se de passagem) que eles têm utilizado por algum tempo. O benefício é que qualquer outra distribuição, seja ela qual for, que distribua o GNOME, estará usufruindo das traduções… e todas elas terão o mesmo padrão de vocabulário e qualidade!

E é isso que queremos também fazer com o KDE… e com o XFCE… e Mozilla… e OpenOffice…

Chegou a hora de deixarmos nossas bandeiras, camisetas, e faixas de torcida organizada de distribuições de lado… e vestirmos uma camiseta só! Afinal de contas, de 4 em 4 anos não viramos uma “massa” só para apoiarmos nossa seleção de futebol? Por que não expandir este sentimento/movimento para outros “campos”? Que lingua falam vocês??? Que lingua falo eu???

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